“O professor aprende ao ensinar e o aluno ensina ao aprender” (Paulo Freire)
Aguçando um pouco nosso campo de percepção, perceberemos as relações de poder fortemente enraizadas e propositalmente enrustidas em nossa cultura, dentro e fora do ambiente escolar. Desde a infância somos tratados como objetos - nossos professores se posicionaram com superioridade antes mesmo que soubéssemos alguma coisa sobre hierarquia ou abuso de poder. Nossas potencialidades particulares têm sido sempre renegadas, ignoradas, excluídas.
É provável que muitos dos professores que tivemos tenham tido outros professores que também os ensinaram desta maneira. Se relacionarmos isso a uma breve análise histórica de nosso desenvolvimento enquanto brasileiros, podemos lembrar o quanto fomos frágeis e acostumamos a repetir comportamentos sem nunca questionar seus motivos ou conseqüências.
Os professores, de um modo geral, são reprodutores de ideologias (modos de ser, agir, sentir e se posicionar) tanto quanto seus alunos, e, quando um professor se posiciona como superior ou dono do saber, se coloca na posição de ditador de regras, a formar alunos obedientes, pacatos e submissos, não permitindo a estes indivíduos o desenvolvimento de suas potencialidades de maneira espontânea, acostumando a serem e agirem de acordo com as normas estabelecidas, seja lá onde forem ou estiverem.
Mas a realidade que vivenciamos não é um prato pronto, e sim fruto de um processo que se constrói em conjunto. A educação como prática produtora da existência humana e de suas formas de intervir no mundo é um ato político, criador de modos de ser e agir no mundo. O papel do professor deveria ser de potencializar os alunos e não amedrontá-los, a educação é uma experiência de quem cria, e não de quem é teleguiado. O processo educativo deve se pautar numa prática democrática, reconhecendo a identidade histórica e cultural de cada um, sempre comprometido com a ética e o respeito. Para isso, temos de romper com a prática tradicional e os costumes por ela cristalizados - o autoritarismo e a alienação.
O educando tem de ter espaço suficiente para que seja e se reconheça como o participante ativo da construção de seu conhecimento, sentindo-se parte responsável da construção e da re-construção do espaço escolar e da sociedade, num processo que acontece no diálogo com o educador e seus outros colegas, para que seja possível perceber e transformar a realidade condicional. Com uma prática democrática e livre, poderemos então reconhecer que todos somos autores de nosso processo histórico, e como educadores temos de propiciar a emancipação e potencialização dos sujeitos para que possam se construir e se assumir de maneira autônoma e consciente, intervindo em sua realidade para melhorar.
A prática educativa acontece num espaço de convivência, numa relação do conteúdo a ser dialogado e a experiência histórico-cultural e os anseios de cada um. Sendo assim temos o dever de questionar nossa prática: se ela está pautada na educação tradicional que inferioriza e coisifica os alunos, ou se o seu objetivo é a construção de seres autônomos e conscientes de sua responsabilidade para com os outros e a si mesmo, numa prática que supera os limites pessoais e proporciona uma relação que afirma o indivíduo, ao invés de negá-lo.
Bruno Carrasco, outubro de 2010.
1 comentarios:
A posição adotada pelo "status quo": " o número de acidentes automobilístico aumentam ano a ano?'. A solução?....: AUMENTAR AS HORAS DE AUTO-ESCOLA!"
"Os índices escolares estão baixos?... A solução?: AUMENTAR A CARGA HORÁRIA!"
E assim as coisas se mantém...São mais fáceis "soluções" rápidas, ao invés de ir no foco da questão... é a prática da coisificação humana; da padronização; da discussão de "big brother" e novelas das 9 na pauta do dia.
Concordo plenamente com a abolição das tradicionais práticas de educação que tem sido, na verdade, mero repasse do que se aprendeu, sem novidades, sem motivações, sem estimular qualquer desenvolvimento humano.
Postar um comentário