Esquizoanálise e rizoma - Deleuze, Guattari

A esquizoanálise trata-se de uma clínica nômade, mutante, e rizomática, para a criação de novos meios de subjetivação do indivíduo, se utiliza de alguns conceitos psicanalíticos e se opõe a algumas ideias, onde “não há programas de vida, cada um se constrói e surge na prática, as coisas vão se fazer fazendo” (Deleuze).

A leitura cartográfica, é uma leitura dos processos, feita com intuito de perceber as conexões da pessoa com os objetos, espaços, outras pessoas e consigo mesma. Para pensar as questões de: quanto o sujeito afeta ou se deixa ser afetado pelas relações que estabelece? como as relações da pessoa criam sentido para ela e a constituem como um uno-múltiplo? por onde o desejo da pessoa passa?

"Esquizo" significa muitos, os tantos seres que nos habitam, que podem ser buscados por meio de uma cartografia das partes e exame de cada uma parte e sua relação com o todo. Somos seres inacabados e em permanente transformação, frequentemente passamos por situações que bloqueam nossos movimentos e geram sensações de incômodos, porém para isso há muitas saídas.

"Cada um de nós somos vários; nós juntos já é muita gente;
há o que nos aproxima de mais próximo e de mais distante;
não somos mais somente nós mesmos, fomos alterados, aspirados, multiplicados;
a lei do Uno que se dorna dois, depois dois que se tornam quatro
– pode-se passar diretamente de Uno a três, quatro ou cinco."
(Mil Platôs, Deleuze e Guatarri)

O desejo está ligado a produção, a doença não está somente as figuras edipianas da psicanálise, mas no mundo inteiro, no capitalismo, na história, nos povos, etc. O que faz com que um processo seja bloqueado está indissociado de seu contexto, é fruto de um processo de relação.

O mapeamento pode partir de um procedimento de escuta do sujeito: das coisas que faz e que gosta de fazer, de suas queixas, de suas potencias, de seus espaços, das pessoas significativas e de seus sintomas. Esse mapeamento não é estático, pois o sujeito (consciente e inconsciente) está sempre produzindo novas coisas por meio de novas experimentações ele cria conexões e oportunidades, cria novos agenciamentos.

Com a análise de todas as partes de um sujeito (família, escola, amigos, vizinhos, sintomas, potencias), com a intenção não de interpretar, mas experimentar, se pretende auxiliar o sujeito a criar e potencializar novas possibilidades, acompanhando e não induzindo. É possível facilitar o processo com dispositivos, como livros, poesias, músicas, colagens, etc., que auxiliem na busca de potencialidades.

O capitalismo gera uma impossibilidade de cada um buscar o que se constitui a si mesmo, somos afetados por muitas coisas sem entender o que elas são. Por meio de uma clínica do movimento e da experimentação que se faz no encontro do sujeito para criar, inventar e potencializar, se pensa e se cria novas possibilidades para cada um, percebendo o que faz seu corpo expandir e não contrair. Não existe uma divisão entre o pensamento e o corpo, estamos vivendo uma guerra constante contra nós mesmos, mas acredita-se que podemos criar possibilidades de enxergar novos mundos através das experiências e por meio da arte.

A clínica rizomática procura buscar o sinal de vida que se encontra na dor, procurando perceber como cada pessoa se deixa afetar com seu corpo, sua mente e sua psique a partir das relações e abertura pelas quais se conecta com o mundo, como ela se afeta pelo outro.

Encontrar a potência em meio a confusão, olhando para a vida existente na pessoa e não na doença, valorizando o processo, as coisas vão se fazer, fazendo. As linhas de fuga são possibilidades de transformação.

A ideia de enfermidade está ligada ao aprisionamento, parada de processos, interrupção do devir. Para isso devemos intervir para a criação de uma sintaxe e de novos meios de subjetivação.


Pontuações:
  • A organização dos elementos não segue linhas de subordinação hierárquicas;
  • A raiz dá origem a múltiplos ramos;
  • Qualquer elemento pode afetar ou incidir em qualquer outro;
  • Modelo arbóreo de organização do conhecimento
  • O rizoma carece de centro


Trechos de "A Literatura e a Vida" (Gilles Deleuze):

  • "O devir não é se direcionar para uma forma, é algo inacabado, sempre em curso, o devir sempre está ‘entre’"
  • “Não há linhas retas, nem nas coisas e nem na linguagem. A sintaxe é o conjunto de caminhos indiretos criados em cada ocasião para pôr em manifesto a vida das coisas”
  • "Se cria uma terceira pessoa para perceber a nós mesmos sem que esteja em primeira pessoa, quando se alcança esta visão, se potencializa o devir; consiste em se criar o que se falta; cada um cria sua própria língua, sua própria bandeira, seu hino, sua lei e sua sentença."
  • “Não necessariamente o delírio é doença, pode ser característico de um povo ou até um rito”


Conceitos: por-vir (possível), linhas de articulação ou segmentariedade, estratos, territorialidades, linhas de fuga, movimento de desterritorialização e desestratificação, multiplicidade, intensidades, agenciamentos maquínicos, corpos sem órgãos e sua construção, sua seleção, plano de consciência, unidades de medida.

Agenciamento: tudo isto, as linhas e as velocidades mensuráveis (uma multiplicidade); está sempre em conexão com outros agenciamentos, com outros corpos sem órgãos. (a literatura é um agenciamento)

Linhas e Possibilidades: há vários, segundo a natureza das linhas consideradas, segundo seu teor ou sua densidade própria, segundo sua possibilidade de convergência sobre “um plano de consciência” que lhe assegura a seleção – com o que uma máquina pode ou deve estar ligada (à outra) para funcionar?



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Esquizoanálise e Rizoma
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