Esboço sobre a Alienação Cultural

Cultura (do latim "colere", significa cultivar) é tudo o que se cultiva: conhecimentos, costumes, crenças, artes, moral, e tantos hábitos dos seres humanos presentes num grupo social. Não existe povo que não tenha cultura, todo povo é produtor e produto de culturas, de modo que nos afetamos e somos afetados nas relações que estabelecemos. Toda pessoa é produtora de modos de ser, agir, sentir e pensar.

Herdamos uma relação de poder historicamente constituída, onde fomos ensinados a consumir um tipo de cultura sem reconhecer que também a criamos. Estabelecemos uma relação passiva e inferiorizante, onde reproduzimos valores que nos trouxeram, desmerecendo os valores antes presentes. Quando os portugueses chegaram ao Brasil, eles não reconheceram os índios como um povo com cultura, os índios eram tidos como selvagens e inferiores, e foram colonizados para aprender o que é cultura, partindo do referencial cultural dos colonizadores.

O termo “cultura” foi associado a eruditismo, a bons costumes, a etiqueta, entre tantos outros valores positivistas, que envolvem a ideia de uma suposta superioridade de uns sobre outros. Houve uma divisão, entre um povo que se julga superior e detentor do saber e outro povo que não se reconhece como produtor de cultura e aceita sua condição de inferior e submisso, legitimando o poder exercido do primeiro sobre este. Esse processo nos tornou alienados culturalmente, onde não nos reconhecemos no que criamos e reproduzimos, e valorizamos os costumes e crenças das quais fomos ensinados como corretas e verdadeiras por um pequeno grupo, por meio de uma relação injusta de poder.

Toda pessoa pode se posicionar culturalmente, expor suas maneiras de pensar e sentir, seus valores e crenças, e para isso é preciso que exponha a outras pessoas, e que essas reconheçam e legitimem sua produção com valor cultural. Mas, há alguns fatores que impedem que o povo se reconheça como produtor de sua cultura, dois grandes vilões que exercem forte poder de influência cultural: a arte de entretenimento que é feita para vender, com toda uma propaganda associada a sensações de prazer; e a pseudo-intelectualidade, que se julga superior as outras culturas por ter uma certa "teorização acadêmica".

Por conta dessas influências, muitos não conseguem reconhecer a produção cultural de seus semelhantes, valorizando o "mito" do que é endeusado pela mídia ou por um pseudo-eruditismo. Assim não conseguem reconhecer que a cultura está presente no seu cotidiano, negando o que se vive e o que acontece ao seu lado.

Na alienação o homem não se reconhece como produtor de sua cultura, tornando-se produto de uma cultura alheia. Se o povo não reconhece o que produz, as pessoas se negam enquanto seres criadores de valores e modos de ser de uma humanidade. A pessoa alienada culturalmente não se reconhece produtora de seus modos de vida, é portanto, produto dos valores dos outros.

Acredito que enquanto um povo não puder reconhecer e aceitar que seus semelhantes produzem cultura, não conseguiremos nos aceitar também como produtores de cultura. No meu ver, quanto mais valorizamos a cultura endeusada por "mitos", mais nos distanciamos de nossas referências culturais pessoais, e se não reconhecemos o que fazemos como algo a ser cultivado, não nos aceitamos como produtores, vivendo assim como produto de outros.


Bruno Carrasco, fevereiro de 2012.

2 comentarios:

Carol Bonando disse...

Jà sabe que concordo com o seu ponto de vista e de onde estou, não importa onde, faço com que as pessoas vejam o que conseguimos ver. Dividir o ponto de visão é algo genial... quem enxerga com outros olhos, consegue ver mais, não é? Impossível ver o todo? Não sei, mas sempre estou tentando ver o todo e sei que vocÊ também está! kkk bjs parabéns pelo texto, novamente!

Anônimo disse...

Talvez com uma re-educacao, visando mostrar nossa realidade para novas geracoes de maneira na qual esta cultura nacional ou mesmo regional faca parte da realidade delas. E que um sentido de indentificaocao seja despertado por proximidade e nao por um sentido global de pertencer. Bruno é visivel que nos fazem assim desde as primeiras amostras de imagens ou filmes que passam em colegios. No nosso pais a rede de ensino chupa uma visao Europeia de ensinar e acredita que isto funciona em um pais onde somos todos os paises do mundo em um só, poxa logo de Frences........
A estrurura futura que ira produzir e consulmir cultura precisa de nacionalidade e orgulho de pertencer a uma regiao onde se pode consumi-la com qualidade, mas claro deixando o espirito que somos fodoes fora disto..... aprender a olhar a producao do proximo como um esforco semelhante ao seu para uma busca maior onde varios pequenas celulas biscam fazer sua parte, e pelo fato de ser outra celula mesmo com um olhar diferente ao seu deve-se entender que ele rema o barco junto com todos que buscam o memso caminho a alcancar........ Sei la Carrasco e por ae vai MUita coisa entra dentro do assunto do texto fica esse pedacinho de escrita ae... espero que some no que vc busca com essa escrita......Vou tomar cafe pq acabei de acordar ... Grande abraco............

ASS: ROD SAN

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