Cultura de massa e cultura intelectualóide

Sobre cultura, produção cultural, alienação cultural, mecanismos de poder para o controle dos modos de vida das pessoas e submissão cultural

Todo povo produz cultura, toda pessoa é produtora de modos de ser, agir e sentir, mas fomos acostumados a consumir cultura, sem reconhecer que somos capazes de produzi-la. Fomos ensinados a ter uma relação passiva, no sentido de reproduzir modos de ser, sem perceber que podemos criar também.

Esse processo faz com que o que criamos não tenha a nossa cara, pois reproduzimos o que fomos ensinados, e se olharmos a fundo não conseguiremos reconhecer a nós mesmos no que produzimos. Porém, toda pessoa tem a possibilidade e a liberdade de se posicionar e colocar suas maneiras de pensar e sentir, seus valores e seus modos de vida.

Dois grandes vilões exercem forte poder de influência e provocam alienação cultural nas pessoas, impedindo que cada um se reconheça como produtor de seus modos de ser, valorizando e endeusando o que é externo a si e a seu cotidiano. Um deles é a arte feita para mercado de massa, para vender com toda propaganda associada a sensações de prazer, quase sempre com pouco ou nenhum conteúdo, com o simples intuito de entreter e vender. Outro é a arte para os pseudo-intelectuais, chamada de "erudita" que supostamente acredita ser superior que a arte de mercado por haver uma "teorização acadêmica", essa atinge focos menores de mercados de classe média e alta, porém acaba possuindo maior valor econômico.

Sob essas influências, grande parte das pessoas (seja massa ou pseudo-intelectuais) negam a produção cultural de um ser "comum", supondo conhecer coisas que são melhores que outras, valorizando o "mito" gerado em pessoas que antes eram comuns, e que foram moldadas para se parecerem grandiosas. Acabam negando o que se está vivendo ou o que acontece ao seu lado, no seu cotidiano, na sua cidade, na sua vida, e esquecem que não existe saberes maiores que outros, mas sim saberes diferentes, como já dizia Paulo Freire.

A alienação cultural acontece de maneira parecida com a alienação no trabalho. Na alienação ao trabalho a pessoa fabrica um produto que não representa a sua vida, e consome produtos que foram ensinados a ser importantes, sem mesmo saber o motivo. Na alienação cultural vivemos uma cultura, porém consumimos outra, aceitamos e mantemos um mito dum tal de "padrão de qualidade cultural", baseado nas produções maqueadas, feitas com melhores condições econômicas para torna-las mais atrativas e serem vistas como mais "valiosas" que outras. Desse modo, vivemos numa cultura e não aceitamos ela, nos inferiorizamos e aceitamos outra como melhor e mais importante que a nossa, não nos reconhecendo como produtores de cultura.

Muitas pessoas não reconhecem que seus semelhantes produzam arte, achando que para ser "arte" precisa ser feita por "gênios" e "pessoas ilustres", com o carimbo de críticos de arte, jornalistas e da mídia. Acabam assim vivendo uma cultura e consumindo outra, desmerecendo o que se se vive, valorizando o que é empurrado e vendido.

Os pseudo-intelectuais, são tão alienados quanto a massa que consome marcas famosas, eles também não sabem escolher por conta própria, são escolhidos e consomem os produtos de uma cultura "intelectual", a única diferença são os nichos mercados. A pessoa alienada culturalmente, não se reconhece produtora de seus modos de vida, é portanto produto dos valores dos outros, o que ela faz não valoriza em sua própria vida.

Quando se perde a noção de seu espaço geográfico e de seu entorno, prefere ler um livro de um alemão vendido por uma editora que é uma indústria pseudo-intelectual do que ler um texto escrito por uma pessoa que mora na rua de trás. A pessoa que não consegue aceitar que seu semelhante produz cultura, não consegue se aceitar também como produtor de seus próprios modos de vida, é portanto um indivíduo teleguiado, que por vezes até dispõe de um discurso de liberdade, porém não vive essa liberdade.


Bruno Carrasco, 2011.

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