A indisciplina não é o problema da escola

Muitos dos professores e gestores escolares reclamam que a indisciplina é um dos maiores problemas nas escolas. Estive pensando um bom tempo sobre a minha prática enquanto educador e sobre como os professores descrevem a indisciplina, e os problemas que eles apontam estar relacionados a ela.

No ponto de vista dos professores, indisciplina é tido como usar o celular na sala de aula, não prestar atenção no que o professor está falando, conversar com os colegas, escutar música com fones de ouvido, andar ou sair da sala durante as aulas, não fazer lições, não fazer trabalhos, não copiar a matéria no caderno. Todos esses comportamentos são vistos como errados por parte dos professores, e que atrapalham o andamento da aula. Então eu perguntei a mim mesmo em que sentido isso atrapalha a experiência de aprendizagem dos estudantes.

Para responder essa questão, achei necessário pensar sobre como é o estudante de hoje, um ser ligado a tecnologia, incentivado a comunicação e uso de mídas e com excesso de informação. Muitos professores julgam o estudante partindo do seu ponto de vista do que é certo ou errado, é bem provável que muitos deles tenham dificuldade em preparar aulas e estudar escutando música ou conversando com amigos pelo celular, porém para os jovens isso é muito comum fazer diversas atividades ao mesmo tempo, por conta do acesso a tecnologia e meios de comunicação que estimulam o contato.

A escola é uma continuidade da vida, cada jovem em sua vida cotidiana se comunica, interage, usa celular, escuta música, joga jogos, por que na sala de aula isso é proibido? Isso não tem como atrapalhar o andamento da atividade educativa, pois a aula acontece numa troca espontânea para as pessoas, não flui quando se torna algo pesado e sem sentido. Essa ideia de aula como dever, obrigação e pesar faz com que os jovens se desinteressem pelo estudo, pela curiosidade, para conhecer as coisas no mundo.

Penso que um dos grandes problemas da educação é a ideia de disciplina que os professores exigem dos estudantes, tentando forçar aos estudantes a fazer o que eles querem e acham certo. A palavra disciplina significa submissão e respeito às normas e aos valores estabelecidos por aqueles que são seus superiores. O uso do conceito de "indisciplina" na escola parte do pressuposto de que existe uma hierarquia entre professores e alunos.

Me parece um grande desrespeito a integridade dos estudantes enquanto seres culturais e históricos, a postura de um professor que delimita, com arrogância e exercício de poder hierárquico, o que para o aluno é bom ou ruim, o que o favorece e o que atrapalha sua aprendizagem, partindo do seu pressuposto do que é bom ou ruim, sem considerar a opinião do estudante. O papel do educador é de auxiliar, não de normatizar autoritariamente o que deve ou como deve ser ou não ser feito.

Os professores, de um modo geral, gastam muito tempo e energia fiscalizando, prestando atenção nos alunos que estão conversando com seus colegas, nos que estão no celular, chamando atenção de quem se levanta e de quem sai da sala, ao invés de se dedicarem para proporcionar uma atividade educativa mais interessante e criativa, algo que tenha maior relação com o cotidiano dos estudantes, que possa fazer com que eles se interessem mais e, por consequencia, se dediquem mais.

Podemos usar os dispositivos como celulares com android ou bluetooth para a troca de imagens e arquivos relacionados ao conteúdo da atividade educativa, pode-se usar a internet como fonte de pesquisa para desenvolver um trabalho, podemos utilizar músicas como exemplo para diálogo e ponte sobre um tema a ser trabalhado. Essas ferramentas não atrapalham o processo de ensino e aprendizagem, mas podem ser usadas como estímulos para uma aula mais interessante e aproximada a realidade concreta dos estudantes.

Precisamos reconhecer que a aprendizagem não acontece somente dentro da sala de aula e com o professor passando o conteúdo para o aluno, portanto é falsa e ultrapassada a ideia de que para se acontecer o processo educativo, tenha de ter uma série de alunos parados e quietos olhando para o professor, que fica falando sozinho como se estivesse dando uma palestra. Isso é passado, não faz mais sentido, já foi mais que visto e teorizado por diversos autores que aprendemos muito mais nas trocas de informações, no diálogo e na conversa com os colegas, do que quietos, e que as pessoas se desenvolvem mais quando submetidos a situações problema do que a responderem o que já está pronto.


Bruno Barbedo Carrasco
Pouso Alegre, dezembro de 2013

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