A cultura é essencialmente uma realidade instrumental criada para satisfazer as necessidades do homem, de uma maneira que vai muito além de uma adaptação direta ao meio ambiente.
A cultura, uma criação cumulativa, aumenta o grau de eficiência individual e o poder de ação, proporcionando uma profundeza de pensamento e uma largueza de visão imaginável em qualquer espécie animal. A fonte de tudo isso está no caráter cumulativo do aperfeiçoamento individual e na faculdade de participar de uma ação coletiva.
A cultura transforma, assim, indivíduos em grupos organizados, dando-lhes uma continuidade indefinida. A organização e todo o comportamento coletivo, resultados da continuidade cultural, assumem uma forma diferente em cada cultura.
A cultura modifica profundamente as disposições inatas do homem e, atingido assim, ela proporciona, não somente benefícios, mas também impõe obrigações, exigindo a entrega de uma grande quantidade de liberdades pessoais ao bem estar comum. O indivíduo tem que se submeter à ordem e à lei; tem que aprender e a seguir a tradição; tem que torcer sua língua e ajustar sua laringe de sons e de adaptar seu sistema nervoso a uma variedade de hábitos. Sua capacidade de acumular experiências, antecipando o futuro, abre novos horizontes e cria lacunas, as quais são preenchidas por sistemas de conhecimento de arte e de crenças religiosas e mágicas.
Embora a cultura tenha a sua origem na satisfação de necessidades biológicas, sua natureza verdadeira transforma o homem em algo essencialmente diferente de mero organismo animal.
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Texto de: Bronislaw Malinowski.
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